Chalé Verde

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Agora que tudo havia terminado, Cab estava sentado a uma mesa, no bar do Cabellito, tomando o seu uísque.
Enquanto bebia rememorava este episódio recente de sua vida boêmia.
Ele havia recebido em Porto Alegre vinte contos para serem entregues no Chalé Verde à amante de um íntimo amigo seu,
E o que fizera?
Procurou a mulher, uma morena linda. Ela agora estava ali, fazendo ponto na penumbra do cabaré. Qualquer um com dinheiro podia tê-la à vontade. Por que não ele, Cab, o melhor amigo do seu amante?
Chamou-a ao entrar.
Ela vestia um saiote plissado vermelho que deixava à mostra suas lindas coxas morenas.
Malena veio, sorridente. Deu-lhe um beijo e perguntou por Arregui.
— Ele está em Porto Alegre.
— Quando vem?
— Não sei. Vamos tomar alguma coisa e conversar um pouco.
O Chalé Verde possuía na entrada uma área recoberta por uma cerca viva de arbustos e uma espécie de parreira com trepadeiras onde estacionavam os veículos. Cab havia estacionado o seu automóvel ali e o estava observando agora, sob a chuva, por um vão da cortina da janela, rente à qual foram sentar, ele e Malena, para conversar.
O ambiente estava calmo. Além de Malena, mais duas mulheres conversavam sozinhas no sofá grande.
Junto ao balcão o comissário Draw tomava a sua vodca e conversava com o Bira, pugilista e garçom da casa.
De repente o comissário, com seu copo na mão, se levantou e disse:
— Vou tomar um pouco de ar lá fora … – e saiu.
Ouviu-se em seguida um barulho de vidros quebrados e uma discussão. Daí a pouco a porta se abriu e entraram o comissário e dois sujeitos, um dos quais falando em espanhol.
O comissário dizia:
— Eu lhe pedi para apagar os faróis!
— Y usted necesitaba atirar el vaso contra el pára-brisas?!
— Calma. Foi um acidente. Quanto é o pára-brisas?
— No se trata de pagar el perjuício. Solo no acepto la agresión de su parte. Esto es un caso de policía …
— Quer chamar a polícia?, ali está o telefone …
Os sujeitos, um deles parecia argentino, estavam sentados em frente à lareira e o comissário em pé. Nada responderam à sua sugestão de chamar a polícia e o comissário falou:
— Pois então eu chamo … – e encaminhou-se para o telefone. Discou um número. “Alô, é do plantão? Me manda aqui um agente e dois PMS – aqui no Chalé … É o Draw – e desligou.
Cab e Malena estavam atentos ao que acontecia. O Bira servira duas vodcas para os forasteiros e mais um uísque para o comissário que agora permanecia junto ao balcão.
Aproveitando o silêncio que se seguiu, Cab falou:
— Sabe, Malena, hoje estou a fim de ti.
A morena fitou-o longamente, sorriu e disse:
— Não vejo mal nenhum.
— Então vamos para o teu quarto. O ambiente aqui vai ficar pesado …
Mal dissera isto, Cab viu entrar um inspetor e dois PMS. O inspetor apresentou-se ao comissário e falou:
— Estamos às suas ordens!
O comissário dirigiu-se aos dois sujeitos que estavam sentados e pediu:
— Levantem-se.
— Pero, por quê? – falou o que parecia argentino.
— Porque aqui está a polícia e eu sou o comissário Draw!
O outro sujeito, um advogado de Uruguaiana, apresentou sua identidade. O Comissário a amassou e disse:
— Vamos para a delegacia. Bira, deixa comigo as despesas. – e saíram.
O ambiente voltou à calma.
Cab e Malena fizeram um sinal ao Bira que iam para o quarto e se retiraram.
Eram três horas da manhã. Não tinha mais ninguém. As mulheres já se haviam recolhido e Bira fechou a casa.
O silêncio cobriu a madrugada.
(…)
Agora estavam deitados lado a lado, o braço direito de Cab por debaixo da cabeleira de Malena, segurando-lhe o ombro macio. Cab mordiscou-lhe os lábios carnudos e disse:
— Quanto te devo por esta noite maravilhosa?
— Eu cobro cem …
— Pois eu vou te pagar vinte mil, divididos em quatro noites iguais a esta. Cinco mil de cada vez …
— O quê ? ! O que é isso, Cab?! Que eu saiba tu não és rico …
— Não se fala mais neste assunto. Toma aqui cinco mil.
Malena, ainda surpresa, não sabia o que dizer nem o que fazer com aquela quantia em dinheiro. Era cinquenta vezes o que costumava cobrar dos seus clientes.
Cab deu-lhe um último beijo, vestiu-se e saiu.
Nas três noites seguintes, a intervalos de um ou dois dias, Cab ficou com Malena.
Na última noite entregou-lhe os últimos cinco mil … Sua missão estava cumprida.
Cab nunca mais viu Malena e perdeu o seu melhor amigo.
Este era o seu pecado, que agora procurava aplacar com uisque, ali no bar do Cabejito.

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