Pegadas da Revolução Farroupilha

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Em CUARÓ, pequeno povoado de 142 moradores (em 2010) no Departamento de Artigas-UY a 60 km da cidade de Quaraí, foi a última batalha dos farrapos. Foi uma batalha deslocada do território gaúcho e também do momento político, pois já se negociava um tratado de paz. Não se esclareceu por que o coronel Bernardino Pinto decidiu continuar uma rebelião que estava perdida. A insistência do coronel Bernardino, que já havia se envolvido em combates dentro do território uruguaio, em outubro de 1844, dois meses antes do desastre em Cuaró, atacara Sant’Ana do Livramento com 200 homens, sendo derrotado pelo imperial Hipólito Cardoso. Ao retroceder para dentro do Uruguay, Bernardino foi perseguido pelo 4º Corpo de Cavalaria da Guarda Nacional, comandada pelo tenente-coronel Antônio Fernandes de Lima, onde ali foi novamente batido, na localidade de Las Cañitas.
Conhecida como “combate esquecido” foi uma batalha deslocada do território gaúcho e também do momento político, pois já se negociava um tratado de paz. Não se esclareceu por que o coronel Bernardino Pinto decidiu continuar uma rebelião que estava perdida. Seria um inconformado que agiu por conta e risco? Um rebelde mais rebelde que Bento Gonçalves, Souza Netto e outros? O fato é que Bernardino não teve chances. Foi destroçado pela tropa imperial de Vasco Alves Pereira — comandante da Guarda Nacional e oficial de confiança de Bento Manuel Ribeiro — junto ao arroio Cuaró, afluente do Rio Quaraí, no Departamento de Artigas. A favor de Bernardino, a sua bravura: não se entregou, só foi aprisionado depois de ferido.
O coronel Bernardino parecia um renegado. Antes de ser derrotado em Sant’Ana do Livramento e no povoado de Cuaró, negociações de paz estavam em andamento. Bento Gonçalves e Caxias tinham se reunido nas proximidades de Bagé para encaminhar um cessar-fogo. Enfrentamentos próximos à fronteira com o Uruguay tornaram-se frequentes na etapa final da guerra dos farrapos, quando os farrapos estavam em desvantagem e precisavam deste lugar para escapar. No Uruguay, também podiam renovar o arsenal e a cavalhada para continuar a tática de guerrilhas no RGS. Detalhe: Em Cuaró Caxias também comprava cavalos para o exército imperial – daí que ali ficava sabendo da grande movimentação dos farrapos.
Em Artigas, pesquisadores sabem do combate, mas dispõem de escassas informações. Justificam que seu país excluiu o episódio da história. Explica que o caudilho José Fructuoso Rivera (1784-1854), presidente da República Oriental do Uruguai por períodos que coincidiram com a Revolução Farroupilha, não queria encrencas com o Império do Brasil. O Uruguai recém conquistara sua independência, pretendia evitar novas broncas.
Militares envolvidos na Revolução Farroupilha pertenciam à Guarda Nacional, como o imperial Vasco Alves Pereira, que derrotou Bernardino Pinto no Cuaró. Criada em 1831, a Guarda Nacional tinha o propósito de enfrentar as insurreições das províncias. Era integrada por grandes estancieiros e suas milícias particulares.
Na etapa final da guerra civil, quando o Império do Brasil apertou o cerco, alguns farrapos combateram até a morte. Um deles foi o major Joaquim Teixeira Nunes, comandante dos Lanceiros Negros. Logo depois do massacre no Cerro dos Porongos, foi morto no confronto do Arroio Grande, em 28 de novembro de 1844 marcando as últimas pegadas dos cascos de cavalos farrapos nestas coxilhas nos deixando o legado de liberdade, igualdade e humanidade.

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