O Messias

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Se o caro leitor procurar em um dicionário encontrará a definição de Messias como sendo “Originalmente, para o judaísmo, enviado de Deus que deverá salvar e redimir a humanidade de todos os males”. Já as Escrituras mencionam em diversos versículos referências ao Messias. Fico apenas com a citação de Isaias que nos traz um conceito mais definitivo.

Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o governo estará sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai Eterno, Príncipe da Paz. Do aumento do seu governo e da paz não haverá fim, sobre o trono de Davi e no seu reino, para o estabelecer e o fortificar em retidão e em justiça, desde agora e para sempre; o zelo do Senhor dos exércitos fará isso”. (Is 9.6-7)

Feita esta introdução para situar o leitor no verdadeiro sentido da palavra Messias, é preciso dizer que muitos, ao longo destes 20 séculos passados, se apresentaram como sendo o verdadeiro Messias com distintas mensagens e de diversas nacionalidades e em várias partes do mundo.

O filósofo francês Voltaire (1694-1778) cita em seu Dicionário Filosófico a muitos que tentaram se passar por Messias ao longo dos anos. Ele conta que em 1666 Sabaté Sevi se apresentou como um messias em terras turcas. Depois de alguns anos de pregação e enganação o sultão de Andrinopla (uma cidade turca) “resolveu acabar com esta comédia, mandou chamar Sevi e disse-lhe que se ele fosse o Messias, deveria ser invulnerável; Sevi concordou. O grão mestre mandou que o colocassem como alvo das flechas de seus pajens”.

Diante desta situação o falso messias disse que ele não tinha a qualidade da invulnerabilidade e que vinha em nome de Deus para dar apenas o seu testemunho. A partir deste fato, mais um messias foi desmoralizado e esquecido pelos seus seguidores.

Agora não é o momento para desenvolver a tese (apenas lembrá-la) que perdurou durante a Idade Média de que o rei ao ser ungido monarca com os santos óleos pelo Papa, seu corpo finito adquiriria uma qualidade mística e não sujeita ao processo da degeneração senil. O historiador Ernst H. Kantorowicz (1895-1963) realizou pesquisas sobre História antiga e medieval e nos presenteou com o seu fascinante livro sobre o tema “Os dois corpos do rei”.

Afirmava-se, então, que o rei era possuidor de dois corpos – um humano e outro um corpo místico. Este foi um dos pilares sobre os quais se assentava a teoria do poder absoluto do Rei, porém ela foi encontrando os seus limites no tempo e declinou definitivamente com a Revolução Francesa de 1789.

Não obstante a queda do Absolutismo, o estado republicano criou aquelas lideranças que se popularizaram pela manipulação da administração ou pelas conquistas bélicas. Napoleão Bonaparte (1769-1821) foi um deles e durante as campanhas de conquistas o seu magnetismo arrebatava as populações por onde passava.

É de lembrar que o general Junot, depois duque de Abrantes, ao conquistar a península Ibérica em 1807 mandou uma carta ao Imperador chamando-o de “Messias” e dizendo que a sua presença foi sentida naquela conquista.

Não foi de estranhar que ao longo dos últimos 200 anos quando as nações da América Latina começaram a se formar e adquirir características próprias e inconfundíveis, que surgissem nelas alguns governantes muito mais interessados na difusão de sua popularidade do que propriamente governar como seria de esperar num sistema democrático que aos poucos se cristalizava no Ocidente. A partir daí surgiram os presidentes vitalícios que duravam no cargo até serem expurgados por outro que ali queria se perpetuar.

Assim foi nascendo o populismo ou messianismo que encontramos até os nossos dias em várias nações sem o mínimo respeito a seus concidadãos naturalmente massificados por uma máquina de propaganda e de benesses que o erário público está obrigado a manter em benefício daqueles apaniguados assalariados.

Apesar de estarmos no século 21, o nosso Continente ainda está cativo deste messianismo calhorda, do endeusamento de falsos líderes salvadores da pátria e rotulados como pais da cidadania. Além disto, os poderes republicanos passam a ser abafados pela vontade unipessoal do pretenso líder.

É natural que diante deste quadro de desmando a Constituição e a legislação ordinária sejam afastadas pelas desculpas mais esfarrapadas, a fim de que a vontade messiânica seja posta em prática com toda a desfaçatez e sem o menor pejo pelas garantias individuais do cidadão.

Por fim cabe a pergunta, o que a democracia fez de errado ao longo dos tempos para que segmentos sociais prefiram o retorno destes messias que só criam governos despóticos?

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