A guerra do tráfico

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Lá se vão mais de 30 anos que seguidamente eu viajava para o Rio de Janeiro. Pela comodidade e porque havia um hotel barato ali, quase sempre ficava no Posto Quatro de Copacabana, nas imediações da Figueiredo de Magalhães e Santa Clara, que sempre achei ser o coração do bairro.

A partir dali partia para todas as incursões nas imediações e para outras zonas da cidade. Com efeito, só o passeio pelos quatro ou cinco quilômetros da Avenida Nossa Senhora de Copacabana já é uma festa para os olhos pela quantidade de lojas e variedade de coisas exóticas para ver. Para quem não conhece o Rio e especialmente Copacabana, é preciso que se diga que o bairro é uma faixa de 200 metros de largura entre o morro e a praia, enquanto que em uma de suas extremidades fica o Leme e na outra ponta o acesso ao Arpoador.

O meu objetivo agora não é a descrição geográfica de Copacabana, porém contar uma historinha que acompanhei ali. Em um dia de meus passeios parei para olhar o movimento em uma das esquinas da Avenida Barata Ribeiro, que fica quase na encosta dos morros, onde estão algumas favelas.

Na outra calçada em frente de onde estava havia um pipoqueiro com o seu carrinho e observava que as pipocas estavam saltitando. Passei a observar que as pessoas paravam ali junto ao carrinho, faziam o movimento tradicional de pegar o dinheiro e entregar ao pipoqueiro, todavia não via aquelas pessoas saírem com o conhecido volume de um pacote de pipoca.

Tal fato despertou a minha curiosidade e continuei ali observando. De repente parou ao meu lado um senhor de idade que puxou conversa comigo, falando do tempo e de outras amenidades, dizendo-me que já fazia mais de 40 anos que morava no bairro.

No meio desta conversa de passatempo eu pedi para ele observar que o pipoqueiro não vendia pipoca porque ninguém saia com elas. Ele me olhou e deu uma gargalhada como se eu tivesse dito a coisa mais esdrúxula e sem propósito. “É claro”, disse o velhinho, “ele vende cocaína todo o dia aí neste ponto, mas não é o único, se fores em outras esquinas e na Atlântica (Avenida) verás vendedores com carrinhos de pipoca ou de sorvete que não vendem sorvete”.

Este senhor apontou para a encosta do morro à nossa direita e continuou: “Estás vendo aquele policial militar naquela esquina? Está a serviço do tráfico para só permitir que suba o morro a quem for comprar droga”, completou o meu parceiro momentâneo.

Passados tantos anos, presumo que a rede de distribuição e os consumidores devem ter aumentado na mesma proporção do crescimento populacional do bairro.

Porventura, será que a polícia acabou com os carrinhos de pipoca e picolé? Tenho as minhas dúvidas, porque já se tornaram uma instituição perene e consolidada naquele meio.

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