Nefasto racismo

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Sabe-se que há dois mil anos antes de nossa Era surgiu ao Sul da Ásia o hinduísmo e esta religião reconhecia que os homens eram divididos em categorias ou castas sociais. A estrutura dos grupos sociais na Índia, formados pela sua descendência, ficou partilhada entre os brâmanes (a casta superior, dos filósofos, sábios e educadores), kshatriyas (administradores e soldados), vaishyas (comerciantes e pastores) e sudras (artesãos e trabalhadores braçais).

Além desta divisão social, ainda existe uma categoria numerosa de indivíduos que são os Dalits e que não se enquadram em nenhuma destas castas, pois são excluídos de todos os direitos sociais e humanos e vivem segregados da sociedade, apesar de se constituírem em mais de 160 milhões de pessoas e a Constituição da Índia, desde 1947, dizer outra coisa. Os Dalits são chamados de intocáveis, porque eles não podem ter algum contato epidérmico com alguém não Dalit. Esta mancha social ainda perdura.

Na Babilônia, o Código de Hammurabi, do século 19 a.C, dividia os homens em três classes: os awilum que tinham os direitos civis e exerciam as funções importantes do Estado, os muskênum que faziam os trabalhos comuns e os escravos sem quaisquer direitos.

Lendo-se o § 196 do Código, compreende-se a distinção entre as classes: “Se um awilum destruiu o olho de um awilum, destruirão o seu olho. Se destruiu o olho de um muskêmum, pagará uma mina (500 gr.) de prata”. Sendo o ofendido da mesma casta, aplicava-se a pena de talião; se de classe inferior o ofendido, teria direito a uma indenização módica.

No tempo de Jesus Cristo também havia discriminação social e racial em Israel. Os judeus segregavam os samaritanos e proibiam até o contato verbal com eles e Jesus, por ser judeu, também deveria cumprir esta proibição. (Jo 4.9; Mt 10.5-6; Lc 17.18; Lc 9.51-56)

Com o fito de libertar o Santo Sepulcro das mãos dos muçulmanos, em Jerusalém, os cristãos europeus cometeram crimes raciais (além da rapinagem no Oriente) nas oito Cruzadas que organizaram no período compreendido entre 1095 e 1270 para reconquistar aquela região.

Estes crimes se repetiram durante a Inquisição do Santo Ofício contra os judeus, muçulmanos e homossexuais nos séculos 15 a 18, principalmente na Espanha, Portugal e até no Brasil.

Apesar daqueles horrores praticados em nome do cristianismo e de Jesus que pregou o amor e o respeito entre os irmãos (Mc 12.31), a triste prática racista se repetiu na 2ª Guerra Mundial com a ascensão do nazismo na Alemanha e o cometimento do holocausto de seis milhões de inocentes. É lamentável que se diga que esta nódoa humana perdura e não desapareceu totalmente.

Além da milenar segregação dos Dalits na Índia, ainda se constata manifestações racistas em muitas latitudes, umas localizadas na Europa contra oriundos de regiões ao Sul do Equador, de territórios de antigas colônias, outras voltadas contra os afrodescendentes e outros grupos sociais como árabes, armênios, curdos, ciganos, etc.

Periodicamente, é descoberto e abortado o trabalho escravo no Brasil a despeito de estarmos em pleno século 21. Estas ações repulsivas devem ser repelidas, é o mínimo que se pode almejar.

*Renato Levy é advogado em Santana do Livramento/RS

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