O conceito de nação gaúcha

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Há muito que entendo que o povo gaúcho constitui uma Nação dentro da pátria brasileira. Devo reconhecer e ir logo dizendo que para mim o gaúcho é diferente dos demais brasileiros sem qualquer depreciação aos outros, porque ele possui uma herança histórico-cultural própria, alicerçada em suas origens multifacetadas e um destino comum de todos aqueles que se agasalham sob a mesma bandeira tricolor.

Até os nossos dias, não existe um conceito que possa satisfazer ao que se deve entender por Nação. Nunca se confundiu Nação com Estado ou com nacionalismo, muito menos com um povo que habita em certo território. Na Idade Média, chegava-se a dizer que o cidadão, em primeiro lugar, deveria se identificar como cristão para depois se considerar francês.

Portanto, não será a lei civil, reconhecendo o nacional deste ou daquele país que irá determinar o conceito de Nação. Quando o Império Britânico se estendia por todos os quadrantes da Terra, alguém nascido em alguma ilha da Oceania não se sentia britânico só por estar sob o domínio da Corte de Saint James.

A União Européia, que veio se organizando desde o Tratado de Roma, em 1957 para buscar uma forma integracionista entre os países subscritores do Tratado de Maastricht, em 1992, não tem o condão para conseguir fazer com que um alemão possa se considerar também francês, belga, holandês ou de qualquer das outras nacionalidades integrantes da União Européia, apesar da lei os considerar cidadãos da Europa. Também não será o idioma comum que identificará um inglês e um americano do Norte como membros da mesma Nação.

Ernest Renan (1823-1892) afirmava que “a Nação é uma alma, é um princípio espiritual. Dois aspectos da mesma realidade concorrem para esta unidade espiritual – um deles é a riqueza de um passado comum; o outro é o entendimento, uma verdadeira vontade de vida em comum, de contribuir ao máximo para o patrimônio coletivo”. Sente-se, pois, a partir de um movimento tradicionalista enraizado na alma gaúcha que o elo de união não se estabelece apenas entre aqueles que residem ou trabalham no solo gaúcho – a Nação Gaúcha vai por onde se encontrar todo aquele que recebeu em seu sangue a marca pampiana, mesmo que esteja fora do território brasileiro.

A Nação Gaúcha não está adstrita a um território ou submissa a um governo; a Nação Gaúcha é um estado de espírito que se multiplica, transmitindo aos pósteros todas as venturas e desventuras acumuladas durante estes quase três séculos de povoamento desta região pelos nossos antepassados.

Esta Nação não se consolidou pelas possíveis conquistas territoriais de seus integrantes, o que amalgamou a todos foram os sacrifícios enfrentados em uma guerra aterradora, com perdas memoráveis de cidadãos, que deram o sangue para que com ele germinasse uma nova Nação.

 * Renato Levy é advogado em Santana do Livramento/RS

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